Para quem não sabe o jornalista Livio Oricchio do Estadão é depois do global Reginaldo Leme um dos brasileiros mais experientes que cobrem as corridas da F1. Reproduzo os dois textos abaixo diretamente do Blog dele.
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Massa, da melhor corrida à maior decepção pessoal
por Livio Oricchio, Seção: Originais do Estadão s 14:42:14. GP da Hungria, de Budapeste.
-por Livio Oricchio, Seção: Originais do Estadão s 14:42:14. GP da Hungria, de Budapeste.
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Felipe Massa assumiria, sozinho, a liderança do campeonato, com 64 pontos diante de 61 de Lewis Hamilton, da McLaren; ampliaria a diferença para o companheiro de Ferrari, o campeão do mundo, Kimi Raikkonen, com 56, e deixaria a todos a imagem de ter conquistado ontem, no GP da Hungria, sua vitória mais espetacular na Fórmula 1.
Mas ao abrir a 68ª volta, a menos de três da bandeirada, o motor da sua Ferrari, sem nenhum aviso prévio, decidiu oferecer um show pirotécnico a milhões de torcedores, atônitos, no mundo todo. Resultado: funcionou tudo ao contrário. Com o sexto lugar na 11ª etapa do Mundial, Hamilton aumentou sua vantagem em primeiro na classificação e agora seu adversário mais próximo é Raikkonen, terceiro, ontem. O abandono de Massa foi também um presente para Heikki Kovalainen, da McLaren, vencedor pela primeira vez na Fórmula 1.
Ficou no ar uma imensa sensação de injustiça, ontem, em Budapeste. Massa largou em terceiro, ultrapassou a dupla da McLaren como poucas vezes se viu nos últimos anos e impôs ritmo surpreendente. Diferente das duas últimas provas, Silverstone e Hockenheim, era Massa quem abria de Hamilton, segundo àquela altura. “A minha chance de brigar pela vitória seria ganhar as posições de Kovalainen e Hamilton na largada”, disse Massa, profundamente atingido uma hora, ainda, depois do fim da prova.
“Já chorei muito e estou quase chorando de novo agora”, disse o piloto. Um pouco mais confortável emocionalmente, comentou: “Sabia que minha largada seria boa, temos começado bem as corridas, e estava do lado limpo do asfalto”, explicou. “Passei o Kovalainen e peguei o vácuo do Hamilton. Ele se defendeu, colocou o carro por dentro, mas tive a possibilidade de me colocar por fora e jogar tudo na freada.”
A manobra, sensacional, ainda não terminou: Massa e Hamilton ficaram lado a lado na primeira curva, com Massa por fora. Num certo sentido, recapitulou a épica ultrapassagem de Nelson Piquet em Ayrton Senna, em 1986, na mesma curva. “Para vencer teria de deixar os dois para trás ali, depois não haveria outra oportunidade”, disse o piloto da Ferrari. Não tirou o pé do acelerador e posicionou-se melhor na saída de curva, concretizando a ultrapassagem em Hamilton.
“Mas eu não tinha certeza, ainda, da estratégia da McLaren”, lembrou Massa. “Vi na segunda parte da classificação, com o tempo que fiz, sábado, que seríamos muito rápidos com os pneus duros. Mas podia ser que eu abria do Hamilton por causa da estratégia da McLaren e eles me ultrapassariam no pit stop”, comentou.
Seu raciocínio estava dividido: “50% acreditavam que meu ritmo decorria do fato de termos mesmo um ótimo carro e 50% em razão de a McLaren adotar estratégia distinta da minha (estar mais pesada)”, contou Massa. “Mas à medida que as voltas avançavam, vi que nós éramos, mesmo, muito velozes.” A essa altura Massa compreendeu que poderia vencer o GP da Hungria.
Outro fato que colaborou para aumentar ainda mais a confiança de Massa se deu na 40ª volta (o GP da Hungria teve 70): “Minha equipe me avisou do problema com o pneu dianteiro esquerdo do Hamilton e imediatamente reduzi os giros do motor”, falou o piloto da Ferrari. “Tinha 23 segundos de vantagem para o Kovalainen. Eu só perderia a corrida se tivesse um problema, como infelizmente aconteceu. Faz parte do nosso esporte.”
Era a segunda corrida do seu motor, como manda a regra. “Não tive nenhuma sinalização no volante, tampouco a equipe (que monitora vários sistemas do carro) me avisou de dificuldades. O motor explodiu, como na Austrália, de uma hora para a outra.” E com a explosão foi-se, ao menos por enquanto, uma chance mais real de Massa se aproximar de verdade da conquista de seu primeiro título mundial. “Restam sete etapas, ainda”, lembrou o piloto, como quem diz: ‘Vem mais por aí’.
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É quase unânime na F-1: foi a melhor corrida de Massa
por Livio Oricchio, de Budapeste. Seção: Originais do Estadão 15:56:38. GP da Hungria.-
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Havia tanto tempo que um piloto não fazia a diferença na pista que o desempenho de Felipe Massa, ontem, no circuito Hungaroring, recebeu elogios explícitos de muitos medalhões da Fórmula 1. Niki Lauda, campeão do mundo em 1975, 1977 e 1984, hoje comentarista da TV alemã, afirmou: “Impressionante a sua largada. Depois liderou com folga, fabuloso. A quebra do motor não é sua culpa. Massa disputou sua melhor corrida na Fórmula 1, merecia vencer.” Lauda não mede as palavras: foi mordaz com Massa na sua decepcionante performance em Silverstone.Dentro da própria Ferrari o piloto recebeu atenção especial. Perguntaram a Stefano Domenicali, diretor-esportivo: “O que a Ferrari tem a dizer de um piloto que não é campeão do mundo, mas pilota, hoje, como campeão do mundo, e de um campeão do mundo mas que não piloto mais como campeão do mundo?” Domenicali riu e não escondeu a preocupação com Kimi Raikkonen, apesar do terceiro lugar, ontem. “Foi o maior trabalho de Massa na Fórmula 1 até agora. Agressivo e preciso quando tinha de ser e capaz de administrar o ritmo de acordo com o momento da corrida””, falou Domenicali.“Depois de passar por uma frustração dessas, não diferente da nossa, o motor estourou na nossa frente, no muro da pista, os fortes saem dessas situações ainda mais fortes, como acredito que será o caso de Massa”, completou o dirigente. Sobre Raikkonen, explicou: “Precisamos investir mais nas sessões de classificação. Kimi tem de melhorar essencialmente nessa hora.” O finlandês perde de 7 a 4 a disputa com Massa pelas melhores colocações no grid.
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