Celebrei o Dia do Leitor, comemorado ontem em Buenos Aires, enfurnada na segunda livraria mais linda do mundo: a Ateneo Grand Splendid. O espaço, um teatro construído em 1919, só perde em “belezura” para uma antiga igreja de 800 anos, na Holanda. A eleição foi feita pelo jornal inglês The Guardian, no ano passado. Saí da Ateneo com um livro na mão, claro. Com El Libro de los Libros, o primeiro guia de livrarias da capital argentina.
A publicação traz a história do comércio de livros em Buenos Aires, oito sugestões de passeios por bairros e suas livrarias, e ainda cada uma delas separada de acordo com a área de especialização. São mais de 350 livrarias listadas! Quase uma por dia. No primeiro texto do livro, outros números não menos impressionantes: com três milhões de habitantes, há mais locais dedicados ao comércio de livros em Buenos Aires do que no Brasil; em alguns bairros há mais livrarias que em Santiago do Chile e, apenas na avenida Corrientes, maior número que em todo o Peru.
O guia apresenta livrarias famosas, como a Ávila, a primeira da cidade, construída em 1785 e que, por sua história, está à altura da Shakespeare & Company, de Paris, mas também jóias que precisam ainda ser descobertas. Entre elas a Goût Elite, a única dedicada somente à gastronomia, e a Wussmann, que trabalha apenas com livros de arte e é um desbunde. Elenca ainda, com destaque, a minha preferida, a Fedro.
Assim como algumas pessoas têm o “seu” bar, impossível não ter uma livraria para chamar de sua se você mora em Buenos Aires. Logo que cheguei aqui me apaixonei pela Boutique Del Libro, em Palermo. Mas em seguida fui fisgada pela delicadeza e conhecimento do pessoal da Fedro, em San Telmo. Além disso, eles são super comprometidos com o bairro, o que faz toda a diferença. Não sei se também contou o fato de que os livros do Caio Fernando de Abreu e da Clarice Lispector estão sempre em lugar de destaque. Ou talvez seja o gato que fica passeando nas estantes, ou então os donos, que recebem a gente sempre com um baita sorriso. Não sei. Mas é a “minha” livraria.
A paixão dos portenhos pelos livros vem causando – pasme – um problema para os livreiros. Eles não sabem como expor o grande volume de obras que chegam a cada mês. O tema foi matéria do jornal La Nación recentemente. Na Argentina, são publicados cerca de 20 mil títulos por ano, uns 1.650 por mês. Cifra elevada se levarmos em conta que um bom leitor aqui compra apenas um livro ou dois a cada trinta dias. Mas veja bem: um leitor aqui compra um ou dois livros por mês! Não sei qual é a venda mensal per capita de livros no Brasil, mas creio que somente por esta média os leitores argentinos merecem mesmo um dia especial.
O Dia do Leitor é celebrado desde o ano passado, e apenas em Buenos Aires. Não por coincidência, é aniversário de nascimento de um dos grandes escritores hispânicos do século XX, Jorge Luis Borges. Será uma semana de homenagens e leituras de textos em vários lugares porque, como se não bastasse, amanhã também é aniversário de Julio Cortazar. Então, se der, nos próximos dias em algum momento desligue o computador, abra um livro, leia um trecho de uma obra que você aprecia. De preferência em voz alta, e para quem você mais gosta.
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Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo (giseleteixeira.wordpress.com), com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha
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